sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Folclo-rindo



Bastava dizer sim
Zenóbio Oliveira

O casamento tem suas propriedades multiformes. Pode ser uma solenidade glamourosa no altar da matriz, como resultado de um projeto planejado desde a infância, um ato de improviso nascido de um amor a primeira vista e também aquele evento que se realiza por uma conveniência ou uma vantagem qualquer.
O casamento no sertão da minha terra ainda possui outros aspectos peculiares, por assim dizer. Quando a família não consente a união, o rapaz rouba a moça;

_ Bastião carregou a fia de cumpade Filicodenço e botou lá na casa de Chico de Maroca!

Quando o sujeito ofende a donzela, a carabina do pai da ofendida é a principal testemunha da cerimônia. Neste caso, o casório acontece por força das circunstâncias. Isso rende uma fofoca.

_ Antonhe de Culó machucou o corte de Zefinha de Salustino e vai ter que casar obrigado pelo cano da bate-bucha do véi Salu!  

Tem os que preferem o concubinato. Tem os que se sentem mais confortáveis com um contrato conjugal, com legítima separação de bens, embora este modelo possua asseveração de direitos e deveres. Mas eu conheço gente que gosta mesmo é de casar. E casar comungando tudo. De papel passado. E como se diz cá, na nossa matutice caipirada, o negócio é botar carimbo logo nos três: no padre, no cartório e na polícia.
Décio de Pautila é, com certeza, um homem com essa – digamos – aptidão. Casou, enviuvou, casou de novo, separou, casou... E nessa brincadeira já estava casando pela oitava vez. E no alto dos seus sessenta e poucos anos.
No enlace com Maria, Décio queria apenas juntar os troços, sem aquela lengalenga dos cerimoniais. Ela porem, moça nova, exigiu todas as formalidades, principalmente a religiosa. Foi aí que quebrou o pau da vassoura, que nem dizia vovó. O velho Décio, apesar de um recordista do matrimônio, não havia estado na presença de um reverendo em nenhuma das vezes anteriores. E quando o padre fez a pergunta de praxe:
_ Senhor Décio! È de sua espontânea vontade receber dona Maria de Fátima como sua
legítima esposa, para amá-la, honrá-la e respeitá-la até que a morte os separe?
Ele respondeu:
_ O sinhô faça aí do jeito que achá mió!


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