quarta-feira, 26 de setembro de 2012

AOS BOTEQUINS


Templos de viagens
Genildo Costa

Vez por outra me vem aquela sensação de que ainda há espaço para uma conversa aprumada por esses botequins da vida. Até que de vez em quando aparece algumas almas privilegiadas. Confesso, mas, dificilmente consigo ser seduzido quando  entra em cena o tão bem postado discurso da supremacia. Aliás, muito comum quando a cena é gerada a partir de um certo grau de desenvoltura desses atores decotidiano sombrio.
Os mais reservados, geralmente, aguardam o momento ideal para sua intervenção. Tudo  conforme os critérios da casa. Quem sempre sai ganhando é o anfitrião que acaba conciliando e aprendendo, por demais. É nesse expediente da diversidade humana que a vida se apresenta como um grande espetáculo. Na verdade, nesse tabuleiro de discurso bem polido, os mais irreverentes tornam-se paladinos do compromisso ético; Sempre em defesa da causa perdida.
Sem perder o prumo e sempre antenado, o tribuno não disfarça e se convence de que tudo não passa de uma quimera. Uma fantasia, que vai muito além de sua imaginação. É quase que um tiro certeiro. Uma tentativa de se redimir de tantos fracassos, de tantas decepções. Mesmo assim a vida segue, normalmente, seu curso, por esses corredores de tão profunda e visível decadência. E aí, a alma definha, lentamente, como se num compasso de espera.
Por sob essas manhãs de tão pouca claridade para com os dias que se repetem, o calendário pouco tem alterado a rotina desses dias de  cansaço e de amigos ausentes. A tribuna está vazia. O copo deixado por sobre a mesa não mais sugere a alegria e, nem tampouco, consegue evitar o desejo compulsivo da bebida amarga que depaupera e estrangula o pouco que ainda resta de alguns fracassados moribundos.
Quem outrora jurou estar sempre por perto, sumiu no elevador do tempo. Não esperou, sequer, o próximo espetáculo. Mas a platéia inquieta, em volta à mesa, insiste em não querer desistir de ver, pela última vez, a mais profunda e legítima declaração de amor e apreço às ilusões perdidas.
Tamanha é a sua capacidade de permanecer altivo e sereno. Ciente de suas incursões. Frágil, mas sem perder a elegância de sua essência e sem deixar vestígios, no camarim da vida.
Não há como compensar a dor, em meio aos gritos da penúltima noite. O bêbado enfeitado, de fantasia torpe, numa declaração aos raios primeiros de cinzenta aurora, tropeça e em gritos de alucinação saúda as luzes que se desprendem dos faróis incandescentes. Agora sim, a sós. Tenta e não consegue acertar o caminho da mais próxima estação. Parece tão perto e tão distante. A mão amiga, é visagem. É horizonte que se encerra. É tropeço que se configura, agora em verdade, absolutamente.
Creio que todas as verdades possam estar expostas por esses varais de tão rude encantamento da vida que se esgota. Que não seja os olhos de oberã os últimos a fitá-los. Prefiro, ainda mesmo que tardiamente, esperar a última sessão, desse enorme palco da vida. Sei que por essas instâncias de solidão e de medo, foram-se, pra nunca mais voltar, os aplausos. As fantasias de minha tão pequena e singela morada e (alcova) desses corredores por onde me perdi.
Para não mais ter que tentar outra vez, depois de tantos embates, prefiro o meu mundo desabitado. Mesmo frágil, me apresento como astro... que chora, rir e não se curva a derrota. Porque derrota, às vezes, muito mais astro me faço.
Não sei o que sou. O que represento. Devo estar por sob às luzes desses astros de infinitos desejos.Talvez um astro vagabundo, que vagueia no silêncio dessas ruas paralelas e de becos estreitos de profunda melancolia. É final. Estrangularam-se as falas, agora, por onde devo ir?! não sei dizer pra onde e que rumo tomar. Perdi o tino e o espaço que a mim resta, quando possível, é guarida para as palhetas douradas de um sol quase sempre nessas manhãs que me despertam na incansável monotonia desse badalar insano do som das catedrais.

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