quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Música nordestina


Reconvexo
Caetano Veloso


Eu sou a chuva que lança a areia do Saara,
Sobre os automóveis de Roma,
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara,
Água e folha da Amazônia.
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra,
Você não me pega, você nem chega a me ver,
Meu som te cega, careta, quem é você?
Quem não sentiu o suingue de Henri Salvador,
quem não seguiu o Olodum balançando o Pelô,
E quem não riu com a risada de Andy Warhol,
Que não, que não e nem disse que não...
Eu sou um preto norte-americano forte,
Com um brinco de ouro na orelha,
Eu sou a flor da primeira música, a mais velha,
A mais nova espada e seu corte,
Sou o cheiro dos livros desesperados,
Sou Giotá Gogóia, seu olho me olha,
Mas não me pode alcançar,
Não tenho escolha, careta, vou descartar,
Quem não rezou a novena de Dona Canô,
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-flor,
Quem não amou a elegância sutil de Bobô,
Quem é Recôncavo e não pode ser reconvexo.


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