sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Crônica




Honestidade na linha
Marcos Bezerra. do Novo Jornal

Quem já viveu a experiência de perder um telefone celular sabe como a coisa funciona. Aconteceu comigo. Você liga diversas vezes e quando a pessoa que achou faz o favor de atender, dá uma de desentendida. Depois você liga outras vezes para descobrir que o aparelho já foi providencialmente desligado. É melhor bloquear, antes que o sortudo, que certamente guarda na cabeça o conceito de que achado não é roubado, comece a usá-lo em ligações particulares. 
Com o fotógrafo Argemiro Lima, meu colega de trabalho aqui no NOVO JORNAL a história foi ainda mais interessante. O malandro atendeu e sapecou do outro lado da linha um “venha aqui para a gente negociar”, como se o aparelho celular tivesse sido vítima de um sequestro e o dono precisasse pagar um resgate. Puto com quem quer levar vantagem em tudo, o velho Argê deu o celular por perdido para não se aborrecer ainda mais. 
Esta semaa meu filho esqueceu um celular novinho numa lan house – uma lojinha modesta na Av. Nilo Peçanha, quase chegando à Praça Cívica. O aparelho, apesar de ser dos mais simples, tem lá sua tela com touch screen e seria um achado para qualquer picareta, mas caiu em mãos de uma pessoa honesta. Foi o que descobri quando liguei e o funcionário da lan house se identificou dizendo que um rapaz, que havia chegado acompanhado de uma mulher, havia esquecido o aparelho numa das mesas. O rapaz em questão tem onze anos e um juizinho que ainda não inclui noções de responsabilidade. 
Tive ainda mais certeza da honestidade do funcionário da lan house quando liguei e disse que ia passar lá para pegar o telefone. O rapaz disse que só entregaria se fosse para o “rapaz” ou para a mulher que tinham ido lá. Questionei qual o nome que tinha aparecido na chamada. E ele – Marcos. Nem painho nem pai... Marcos. Sem jeito, mas me lembrei que tinha fotos no meu celular e resolvi ir lá tentar a sorte. O atendente reconheceu o cliente, mas continuou irredutível. Mostrei uma fatura de plano de saúde com o nome dele, e nada. Aí, liguei para a minha ex-mulher e botei meu filho para conversar com o rapaz, que fez um verdadeiro interrogatório. 
Quando você esteve aqui na lan house? Qual computador usou? O que fez? Com quem você estava? Como era a mulher que você estava? Como vocês chegaram e saíram daqui? E outras perguntas das quais não me lembro... E ainda entregou o aparelho desconfiado. 
Disse que ele levava jeito para ser investigador e elogiei sua honestidade. Ele não pediu nem eu prometi gorjeta, mas, enquanto o computador de meu rapazinho não sair do conserto, é lá que ele vai fazer seus trabalhos escolares. Afinal, não é sempre que encontramos pessoas assim. Do bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário