sábado, 18 de agosto de 2012

Artigo


Oração a São Google
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Estou correndo atrás da bola. Eu e todo mundo que tem um computador com um pouco de memória e internet digna do nome. É inevitável para quem acessa o Google Street View sair acompanhando aquela bolinha rua acima e rua abaixo. Diria mais: é viciante. Mais uma da empresa de serviços online e software dos Estados Unidos, que passou a fazer parte de nossas vidas a ponto de não vivermos mais sem fazer uma busca; uma palavra até então meio em desuso fora do meio policial. Agora não! Viramos buscadores do que já defini como São Google; aquele que a todos salva nos momentos de aperreio. No lugar da reza, uma “googada”. 
Mas, nessa viagem sem sair do lugar, senti falta do carrinho do Google lá no principado de Emaús. Na minha rua ele não passou. Perdeu de registrar um conjunto habitacional popular e um pedaço de Mata Atlântica de encher os olhos e que até poderia ser visto da BR se o carro não tivesse passado na outra via da estrada. Matei a vontade do aplicativo indo atrás das casas onde morei. 
O quitinete da Rua Rafael Fernandes, no Alecrim, continua lá com sua escadinha estreita. A casinha acanhada da Rua José Farache, em Lagoa Seca, ganhou uma mão francessa e pintura salmão; tem um salão de beleza de um lado e um caldo de cana do outro – ia virar freguês. Na Monsenhor Landim, em Lagoa Nova, a casa está mais bonita, mas já não dá para ver a goiabeira no quintal. Confiro de cima... Só telhados. Deve ter sido cortada, como muitas outras aqui da Terra dos Reis Magos. Na Humberto Gama de Carvalho, em Capim Macio, dá para ver  uma rede armada na varanda, mas o ficus que existia na calçada foi arrancado. Estranha essa devoção pelo cimento em detrimento do  verde.
Ainda falta fazer a viagem virtual por Mossoró, onde fixei morada numa dezena de cantos. Lá busquei apenas a casa do meu pequeno; dei um print screen, salvei e mandei para ele por e-mail com o título: a casa de dona Mariquinha no Google. A casa de dona Cícera, a outra avó dele, não aparece no riscado em azul do Street View. Nada de Caicó. Quando muito, fotografias do torrão natal deste beradeiro. E as fotos de satélite ainda têm uma definição muito ruim para matar a curiosidade de qualquer caicoense. E ficam ainda mais aquém quando se leva em consideração o bairrismo. 
O Google há de reconhecer o tanto de acessos que está perdendo, afinal, Caicó tem mais de um milhão de habitantes. Quem duvida é só dar um pulo no Tirinete, lá no Midway Mall e ouvir a história de quem inventou. Na conta de Ary Ovídio, o dono do restaurante, a cidade tem 1.060.000 habitantes; 60 mil em Caicó e um milhão no resto do mundo. 

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