domingo, 5 de agosto de 2012

Artigo



Caicó Beat
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Quem porventura me ligar, não vá estranhar a demora no alô do outro lado da linha. Também pode ser preciso ligar uma segunda vez já que, na primeira, estarei me deleitando com os acordes de African Beat, o toque do meu telefone celular. A música era o tema de abertura do Parque Lima, montado todos os anos nos canteiros centrais da Rua Padre Sebastião, onde morávamos e que, à época, trazia tudo o que de mais moderno existia em termos de diversões: roda-gigante, aviões e cavalinhos que subiam e desciam. Bons e inocentes tempos.
E este mesmo Parque Lima tinha, ao lado de sua roda gigante prateada com duas cadeiras de cada cor, um estúdio musical igualmente colorido. Pontualmente, às 16h, o controlador botava para rodar African Beat. Tam ram,tam tam, tam tam ram tam tam tam ram tam tam... O estúdio de som do parque abria seus trabalhos, que só seriam encerrados lá pelas 22h, não consigo lembrar se repetindo o tema de abertura. E eu, que morava em frente, ouvia African Beat e os sucessos do momento - o primeiro que lembro é Preta Pretinha, do início dos anos 1970 - nos dez dias da festa.
Devo a descoberta da música tema e do autor, Bert Kaempfert, ao amigo Francisco de dona Ana Alice, morador da rua de trás da Padre Sebastião. Ele mudou para Natal ainda menino, mas é mais caicoense do que eu, se é que dá para medir o sentimento de apego a este chão árido, que mesmo assim consegue alimentar nos seus filhos um amor incondicional. Nas andanças da vida só vi igual em outras cidades do Seridó.
Há alguns anos Fantico, como chamávamos na infância, disse que descobriu a música tema do Parque Lima. Com o nome, fiz uma busca no Google e, depois, no You Tube. Lá estava Bert Kaempfert, o compositor alemão com sua orquestra. Não há imagens, apenas a foto dele e o áudio de African Beat. Copiei o link e depois de contar a história aos estagiários que trabalhavam comigo na Pauta da Inter TV Cabugi passei a rodar a música sempre às 16h. Virou motivo de brincadeira; quando eu esquecia, vinha um para lembrar.
Depois, no dia que resolvi comprar um celular que fizesse mais que atender e ligar, catei a música na internet. E é ela que me segue. Numa visita a Caicó, dia desses, botei pra tocar quando passava pela Padre Sebastião de hoje em dia. O que era um canteiro desocupado virou uma praça. Quase um bosque de tantas árvores frondosas. Com a Catedral de Santana ao fundo, uma imagem mágica na noite caicoense. Quis voltar.
O Parque Lima de minha infância perdeu-se no tempo. Os novos, com seus brinquedos radicais e que meus meninos adoram, estão montados na Ilha de Santana. Sem Bert Kaempfert, sem African Beat, que, orgulhosamente, ouço tocar no meu dia a dia.

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