sábado, 12 de maio de 2012

A mulher zangada



Zenóbio Oliveira

A expressão fechada e aborrecida da professora já denunciava arrogância, confirmada logo, logo no primeiro verbo. A brandura de sua interlocutora, uma jornalista, era um contraste que saltava aos olhos. A fala da mestra golpeava ferindo, a de sua colocutora balsamava. A negação contundente, em todos os sentidos polissêmicos da palavra, a uma solicitação para uma filmagem da sala de aula aniquilava a conversa, ultimada num pedido de desculpas da repórter, que foi quase uma súplica.
Eu e os alunos fomos testemunhas oculares e auriculares daquela cena.
Confesso que não encontrei de imediato uma motivação plausível que justificasse o destempero da educadora. Até achei estranho esse comportamento. Talvez porque ainda ecoe na lembrança a voz imperativa de meu pai: “Estude, se não quiser ser estúpido”, ou quem sabe seja parca a compreensão que tenho da natureza humana.
Quem pode explicar?
Numa definição puramente científica, o especialista em psicologia poderia atestar como causa provável uma alteração do humor; no zunzunzum de ponta de rua os fofoqueiros diagnosticariam como uma alteração do amor e o sertanejo, em sua sabença de vida, diria que se trata tão somente da privação de uma necessidade fisiológica.
Não sei quem é aquela pessoa de palavras e gestos exasperados, mas memorizei sua figura para evitar constrangimentos futuros. Nos corredores disseram ser do curso de Direito e fiquei a imaginar como alguém de Direito pode ser tão esquerdo.
Vá entender.

Um comentário:

  1. Zenóbio, falando assim, nesta crônica/comentário, quase que me achei dentro dessas linhas. Por um acaso, nesses mesmos corredores, com uma outra educadora, eu assisti cenas parecidíssimas. Claro que não seria milagre se uma fosse a outra... Mas, o bom nessa história são, como às vezes, um velho e bom conselho vai por água abaixo, quando nos deparamos com uma pessoa que, embora personifique, materialmente, o teórico de nossos avôs, nos faça pensar que até nos conselhos o danado do tempo os fez mudar.
    Um abraço,
    Raimundo Antonio

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