sábado, 26 de maio de 2012

Mobilidade imóvel


Marcos Bezerra, do Novo Joranl

Há um mês, mais ou menos, destinei este espaço para gastar a paciência do leitor discorrendo – com o perdão do trocadinho infame, desandando a passos de tartaruga, que correr em hipótese alguma se aplica nesse caso – sobre a preparação de Natal para a gloriosa e redentora Copa do Mundo de 2014. Chamava atenção para a visita de uma equipe do comitê organizador local à capital potiguar, a exemplo do que deve ocorrer nas outras cidades-sedes, para vistoriar as tais obras de mobilidade. Deste cérebro de grandes proporções saiu o veredicto que, aqui, os técnicos não iriam encontrar mais do que um relógio chifrim, mostrando os dias que faltam para o início do evento, e um boneco gigante com uma bola debaixo do braço. A má notícia é que, agora, só temos o placar. O boneco escafedeu-se. Permito-me elucubrar sobre o seu sumiço... 
Consta que foi retirado de lá por determinação da Justiça, atendendo a uma solicitação do jovem que seguiu de modelo para a placa promocional. O cachê para posar com o moicano de Neymar, ele recebeu. Uma merreca de direito de imagem. O que faltou foi a Prefeitura pagar o direito de micagem, pelo tanto de gozações que o rapaz teria sofrido. “Má rapá, cê num sai dali. Largue essa bola e vá cuidar das obras, que é mais importante”, teria reclamado um amigo interlocutor. Perna de pau era o menor apelido que recebia nas peladas do bairro onde mora, onde teria ficado conhecido por jogar plantado.
Já um tuiteiro, que como todos outros têm como meta botar pelo menos uma frase nos trending topics mundiais antes de esgotar os 140 caracteres de sua vida e ir pro céu – muito embora o TT Brasil já sirva de consolo e garanta ao menos o purgatório – garante que viu o boneco ganhar vida e sair andando numa noite dessas. Consta que, depois de se aconselhar com os Reis Magos de luz, vizinhos no infortúnio de comer a poeira dos carros no entorno do viaduto de Ponta Negra, ele tomou o caminho da árvore de natal gigante. Lá, desnorteado com o efeito de neve que o equipamento proporciona, tal e qual King Kong, subiu na estrutura metálica com a sua inseparável bola debaixo do braço. Há quem diga que ele também levava uma moça que acreditava em Papai Noel e reclamava a falta de uma claque para aplaudir sua atuação heróica, apesar da falta de apoio dos governos federal e estadual. 
A Polícia não confirmou a informação. Também não confirmou a versão de que seus homens foram obrigados a abrir fogo contra o gigante de metal e madeira, que resistiu até a chegada do reforço do helicóptero Potiguar Único. Diante da superioridade da autoridade constituída e o fuzilamente iminente, o boneco-placa-jogador resolveu se entregar sob a condição de não mais voltar para o local de origem. Ainda mais depois de descobrir que o Ministério Público suspendeu as obras de mobilidade para a realização de audiências públicas.  Cansou de levar a culpa pela imobilidade sozinho.

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