sábado, 10 de março de 2012

VERBO AD VERBUM

Que vida boa...
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Emparn prevê chuvas fortes nos próximos dias! Li mais de uma vez para ver se acreditava na manchete on line. Outro site confirmava que seriam chuvas em todo o estado. E até sexta-feira. Uma semana de chuvas; notícia boa para começar bem o dia, de quem, mesmo morando nas franjas do litoral não esquece o torrão natal, até bem pouco tempo castigado pelo sol inclemente.
Refiz meus passos nas férias e encontrei o sertão seco como sempre. Quente também. E me peguei pregando o otimismo diante da minha parentada que já sofria os efeitos da longa estiagem. Janeiro, fevereiro e nem sinal de chuvas nas regiões Seridó e do médio-oeste. Tentei convencer meu tio Bertino que os meteorologistas haviam previsto um período chuvoso dentro da normalidade. E ele, como um profeta popular do tempo, baseado na observação da natureza, insistindo que não ia ter inverno. “O joão-de-barro está fazendo a casa virada para o nascente; formiga fazendo formigueiro dentro do rio...”, reclamava tomando a brisa da tarde na calçada de sua casa, em Janduís. Como contestar mais de 70 anos de experiência?
Aí, de volta para o conforto da cidade grande, sigo a monitorar o tempo, como me ensinou o professor José Espínola, lá da Ufersa, de Mossoró. Na visão dele, as chuvas no semiárido nordestino dependiam basicamente da zona de convergência intertropical - na minha compreensão torta, uma coluna grossa de nuvens que se forma no norte do Oceano Atlântico e que, quando desce, provoca chuvas em abundância. No site do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - aprendi com o professor - dá para acompanhar fotos de satélite atualizadas num período curto de tempo. Vejo que as nuvens carregadas cobrem praticamente todo o estado e torço para a tal zona de convergência continuar estacionada sobre a gente. Ainda mais porque estou a caminho do meu sertão.
Que vida boa... Tomar o prumo da terrinha na expectativa de topar com um tempo chuvoso. Quem sabe um banho nas biqueiras do centro, onde minha mãe ainda mora. Quem sabe gritar “abaixe a mão, Mãe de Deus!”, como fazíamos na infância para pedir mais chuva. Certo é que, chovendo no interior potiguar, vou encontrar um mundo verde pelo caminho. Nada da paisagem ressequida que sempre serve para retratar a caatinga. A jurema é planta besta e uma chuva só, que nem precisa ser muito intensa, já é suficiente para ela recuperar a folhagem e exibir o seu melhor vestido. Tomara que a festa no sertão não fique só nisso e o cenário de fartura se complete com a cheia dos rios e a sangria dos açudes.
Quero andar na feira livre e ouvir a conversa dos agricultores dando notícia das chuvas. Serei feliz entre felizes. Talvez não tanto quanto meu amigo Sérgio Farias. A última mensagem que ele me enviou veio encerrada com um maiúsculo: “ABÇS E UM BOM INVERNO!”

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