sexta-feira, 30 de março de 2012

Crônica

Minha doida Mossoró
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

Só vi agora, depois que o vídeo se transformou num viral da internet, a história dos gêmeos mossoroenses Diego e Diogo, 27 anos e nenhum pingo de juízo entre as orelhas. Os caras pegaram o carro do pai, nove mil reais em dinheiro e resolveram ir para Brasília para protestar pela liberalização da maconha. Foram presos em Salvador fazendo flexões numa das vias mais movimentadas da cidade. 
Na delegacia, diante de uma repórter que insistia num bordão “o sistema está bruto”, um deles, Diogo ou Diego, não sei qual, se mostrou mais inteligente que a moça. Ela insistia em saber por que os rapazes tinham ido parar em Salvador. “Porque a gente... Nós somos livres. Você não é livre? Porque eu quis vir para cá!”
Os pais foram buscá-los e já estão de volta a Mossoró, onde cuspiram mais uma pérola: “Somos duas pessoas santas. Só fazemos trabalhar, fumar nossa maconhazinha e comer e dormir bem.” 
Não sei se é porque em mim falta, mas convivo bem com quem não tem juízo. E esse convívio, pelo trabalho nas ruas, foi especialmente fértil na temporada mossoroense de minha vida. O que de melhor escrevi, acho, foi “Pedro, o anjo”, uma crônica para o centenário O Mossoroense, incluída no meu livro Toalha de Mesa, sobre um maluco que assumia várias personalidades no decorrer do dia. Pedro Neto era tudo o que sugeríssemos para ele; petroleiro, motorista, cantor, fotógrafo. Quem é da terra sabe, a lista não tinha fim. Terminou sendo, na morte, o anjo que foi durante toda a vida. 
Recentemente, arranjei assunto para outra crônica. Perdido no HD ultrapassado e com pouco espaço que é o meu cérebro está o destino de Cesinha do Fusca, assim conhecido pelo amor que devota à baratinha da Wolksvagem. Cesinha, um mulato pequeno e com deficiências física e motora, não podia ver um fusca que caía de amores por ele. Paixão desmedida que resultava numa relação sexual com o capô arredondado do distinto veículo. Não chamam de capô de fusca? Pois bem, Cesinha tratava de cuidar dos que encontrava, agarrar e, se não aparecesse ninguém, só largar depois do gozo consumado. 
Ali, por trás da igreja matriz de Santa Luzia, um senhor que vende utensílios domésticos na calçada, onde Cesinha ia catar algumas moedas todos os dias, disse que a irmã não deixa mais o desajuizado sair de casa. Está gordo e robusto, mas trancafiado. Se ainda tem os inseparáveis carrinhos de plástico, que carregava debaixo do braço, ele não soube dizer. Mas, seria castigo demais privá-lo também de seus brinquedos. 
Reabram as portas do mundo para Cesinha e que Diogo e Diego continuem livres... Pelo bem da Terra da Liberdade.

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