segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Artigo

Herói torto
Marcos Bezerra, do Novo Jornal

A violência subiu de escala e virou assunto obrigatório na imprensa potiguar. Entrou também no cotidiano dos habitantes de Natal e região metropolitana. Não mais apenas das vítimas, reais ou potenciais – os noiados e moradores de áreas de risco. Quem, nos últimos dias, não comentou com um colega de trabalho, com um amigo no bar, com alguém em casa, essa tal onda de violência que bate à nossa porta? No dizer de quem não tem números para comparar – o jornalismo não deveria, mas é fértil nisso –, ela, a onda, é cada vez mais intensa. É cada vez maior o número de assaltos; o de fugas também é cada vez. E por aí a banda toca. 
Mas, é fato, uma ação criminosa como a ocorrida na padaria Pão Petrópolis, tem o poder de despertar a atenção de todos para o problema. Talvez pela violência gratuita. Some-se a isso a fuga, tudo indica criminosa, de 41 criminosos e a ação destes para recuperar o tempo perdido na cadeia, e temos um bombardeio de más notícias. Nos jornais, na TV, na internet e, no meio do redemoinho, o cidadão. Eu, você, os meus e os seus. 
Falo pelos meus e cito os seus porque acredito que o sentimento é semelhante. A moça que foi baleada na coluna e, apesar da esperança da família de uma evolução no diagnóstico, segue paralisada da cintura para baixo. E se fosse um dos nossos?
Na fatídica quinta-feira, 2 de fevereiro, recebi a notícia do assalto em casa. Minha filha trabalha num shopping exatamente em frente à padaria Pão Petrópolis. Um frio correu minha espinha. Perguntei depois e ela confirmou que já havia almoçado mais de uma vez por lá. Lembrei que também já provei da sopa da padaria. Mais tarde, no mesmo trecho da Afonso Pena, um ciclista morreu atropelado, dizem, em fuga depois de roubar a bolsa de uma senhora. Nos outros dias, mais e mais ações criminosas. Muitas num curto espaço de tempo. Muito para quem acredita na cultura da paz, na gentileza que gera gentileza. 
Metrópole segura: o governo garante que botou 1.200 policiais nas ruas e, dia seguinte, acrescenta outros 300 homens ao efetivo. No caminho para casa cruzo com mais de uma viatura policial e não escapo dos olhares perscrutadores dos policiais. Em cima de uma moto, altas horas da noite, sou um suspeito para eles... Sou apenas um pai de família voltando para casa, assustado, como o resto da população. Chegar é um alívio e o sinal da cruz um agradecimento.
No descanso de minha espriguiçadeira, percebo como, em situações críticas, aumenta o apego pela família, que ganha um pouco mais de carinho. Os filhos pequenos, que costumam ter o pai como herói, sofrem com tantos cheiros. Cafungo e, torto que sou, roubo deles a coragem contida na inocência. Energia para seguir em frente.

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