sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Crônica atualizada

O DATILÓGRAFO E A MÁQUINA DE ESCREVER DO POETA.

Alguns acessam, outros navegam, eu sou da categoria que gosta de bulir na internet. E foi “bulindo” na internet, que eu achei a arte de escrever em verso de Zenóbio Oliveira. Em sua poesia, ”máquina de escrever”, ele declara grande afeição à velha máquina, e termina os seus belos versos com uma confidência: “... E disse baixinho à máquina de escrever, _Para os meus textos vou usar você! Computador somente pra a internet.” Logo que terminei a leitura dos versos do poeta, bateu saudade me fazendo lembrar: Quanta utilidade tinha uma máquina de escrever, como era grande a minha vontade de ser um datilógrafo diplomado, o ano de 1975, quando Campo Grande ainda era Augusto Severo, e um curso de datilografia que existia por lá. O local de funcionamento do curso era o salão paroquial e contava com uma pequena estrutura: Dez mesas, dez máquinas, dez cadeiras de encosto, um professor chamado “Edmilson”, e as aulas eram distribuídas em três turnos. Lembrei também, de um momento muito especial: A cerimônia de conclusão das turmas do curso de datilografia e a festa da diplomação, que, aliás, era a segunda maior festa da cidade, perdendo apenas para a festa da padroeira, Nossa Senhora Santana. A cidade ficava em rebuliço, aguardando o dia da festa de grande aparato. Para o evento, eram convidadas autoridades (do clero e da política) e a sociedade local. Semanas antes, o serviço de som, no alto da fachada da prefeitura, anunciava o local e a hora da cerimônia. O traje sugerido para os convidados, era esporte fino, muito embora, alguns jovens usassem calça boca de sino e sapato cavalo de aço (influenciados pela era hippie e a contracultura, do final dos anos 1960 e começo de 1970). Para os concluintes, o traje era a rigor: As mulheres de vestidos longos (todos feitos para a ocasião, pois não havia loja de aluguel de roupas no lugar), e os homens trajavam passeio completo (calça e paletó costurados por “Abel”, vaqueiro e alfaiate). A ostentação daqueles que freqüentavam e concluíam o curso, muitas vezes me fazia sonhar: “Um dia eu vou ser um datilógrafo!” Só que o menino sonhador sem dinheiro (pra pagar a mensalidade), vestindo calção de chita (sem cueca) e com os pés no chão, só podia freqüentar as aulas, na condição de “ouvinte”. Escorava-me na janela pelo lado de fora, botava um pé em cima do outro, quando cansava, trocava de pé, o que estava em cima, ia pra baixo, colocava os cotovelos na soleira da janela, apoiando o queixo na palma das mãos, e ali, eu passava horas ouvindo o “taratatata” das máquinas de escrever. Hoje, o tão sonhado diploma de datilógrafo, está na moldura, dependurado na parede da minha imaginação. Já a máquina de escrever, essa virou bibelô, é enfeite no coração do poeta.


Fabiano Regis
Radialista.

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